Sonho

Sonhei que me afundava nos braços da morte...

Não sei quanto tempo durou a quietude...

Mas sei que este foi o único sonho bom que tive até hoje,

Desde o dia em que soube que os sonhos tinham acabado...

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Uma pequena história para meditar...

Esta é uma história taoísta, bastante famosa, sobre um agricultor que tinha um cavalo, do qual gostava muito.
Um dia, o cavalo fugiu e os vizinhos, por solidariedade, foram junto dele lamentar a pouca sorte. Perante esta manifestação de pesar o agricultor limitou-se apenas a tecer o seguinte comentário: - Talvez!...
No dia seguinte o cavalo regressou e trouxe com ele cinco cavalos selvagens e, os vizinhos, vieram, desta vez, congratular-se com a boa sorte do agricultor. Ele disse, apenas: - Talvez!...

No dia a seguinte, o filho do agricultor tentou montar um dos cavalos selvagens.
Caíu e partiu uma perna. De novo, os vizinhos voltaram e lamentaram a pouca sorte do agricultor. E ele respondeu: - Talvez!...

Na manhã seguinte, um grupo de oficiais veio à aldeia para recrutar os jovens para o exército mas, devido à perna partida, o filho do agricultor não foi escolhido. Quando os vizinhos vieram dar os parabéns ao velho agricultor, congratulando-se com as voltas da sorte, ele apenas disse:
- Talvez!...

terça-feira, 3 de maio de 2011

Com a alma na horta...

Comecei a plantar uma horta biodinâmica... Ah! Ah!
Brevemente, terei fotografias para partilhar...

terça-feira, 5 de abril de 2011

De Prometeu a Hermes


By o0o0xmods0o0o (Morguefile)

"Felicidade é a certeza que a nossa vida não está se passando inutilmente" - Erico Veríssimo

"...
Por acaso imaginaste, num delírio,
Que eu iria odiar a vida e retirar-me
Para o ermo
Por alguns dos meus sonhos se
Haverem
Frustrado?
Pois não: aqui me tens
E homens farei segundo minha própria
Imagem:
Homens que logo serão meus iguais
Que irão padecer e chorar, gozar e
Sofrer
E, mesmo que forem párias,
Não se renderão a ti como eu fiz."
                                                                             - Goethe in "Prometheus" (1744)-

Hermes foi adorado na Grécia Antiga como sendo um deus com várias responsabiliades. Era filho de Maia e de Zeus e mensageiro deste último e, como tal, idolatrado pela sua velocidade e reputado "diplomata", excelente comunicador e, como tal, extremamente persuasivo. Era também protector dos comerciantes...

Prometeu é o símbolo da Humanidade e constitui um dos mitos gregos mais presentes na cultura ocidental. O fogo significava a matéria-prima alquímica que originava e fortalecia a inteligência e a sabedoria, fazendo com que o Homem se diferenciasse dos outos animais. "Prometeu" significa, etimologicamente, o que primeiro pensa e só depois age.

No texto de Goethe, do qual retirei o extracto que apresentei acima, é descrito um homem extraordinário que se nega a venerar deuses ou estar sob a submissão de alguém.

Actualmente, interrogamo-nos sobre o "ensino do conhecimento". Segundo Edgar Morin o que deve ser privilegiado é o "ensino do conhecimento dos conhecimentos" e, na sua obra "Os Sete Saberes para a Educação do Futuro" são enunciados os princípios de um conhecimento pertinente onde as partes são solidárias do todo. Nela se exalta a condição humana, cuja complexidade se encontra desintegrada no ensino, devendo procurarse a unidade na diversidade dos conhecimentos e dos próprios humanos. Para tal impera a necessidade de ensinar a arte de enfrentar as incertezas que nos chegam através das ciências, a estratégia dos acasos, o exame dos acontecimentos e acidentes dos tempos que correm, o carácter inesperado da aventura humana da aventura humana e a compreensão, como penhor da paz, por oposição à barbárie e à incompreensão.

Considerando tudo isto pensei na televisão como uma escola, na rua como uma escola, nos bares e discotecas como uma escola, no futebol como uma escola... Gostaria que os jornais eivados de um jornalismo sério também o fossem mas, ao contrário destes, é a imprensa cor-de-rosa que mais escola faz.

Talvez, então, de forma demasiado simplista, considerarei que Hermes, o deus mensageiro, ganha terreno sobre Prometeu o deus do conhecimento...

Há já alguns anos atrás, num sábado de manhã dedicado à leitura de jornais e a um descontrair de pernas ao sol numa preguiça apetecida, uma crónica chamou a minha atenção. Vinha numa revista de um semanário, lembro-me vagamente que o autor era um jornalista americano, do qual não recordo o nome mas recordo claramente esta ideia: não estará longe o tempo em que um autocolante no vidro da rectaguarda de um automóvel com a simples afirmação "I Love America", seja considerado uma obra literária.

Consciente de que não há pedagogia sem transmissão e que, quanto mais acessível ela for, melhores e mais garantias tem de ganhar terreno, preocupa-me que as instituições de ensino a dificultem enquanto outros organismos a vão facilitando cada vez mais. Sabendo também que a pedagogia tem, indiscutivelmente, de ter uma finalidade ou finalidades  e que para a ou as ter tem de conhecer os destinatários, pergunto-me se a escola sabe, se conhece bem os seus alunos e respectivas famílias, se sabe ou procura saber que dificuldades, que angústias, que desejos e que sonhos se encontram por trás da máscara social que esses destinatários transportam consigo no quotidiano. Se não sabe não pode, obviamente, dar respostas. Posso, também colocar a seguinte questão: entre Arlequim e Pierrot o que escolhe a escola? O manto variegado de cores do primeiro ou o manto branco, asséptico e universal do segundo?

Uma escola inclusiva, acolhedora das diferenças e das incertezas tem de ser, forçosamente, colorida. E, como a vamos colorir, como vamos articular as cores para que o resultado seja atractivo e motivador? Como motivar os alunos se os professores, eles próprios se sentem desmotivados?

Aos idealismos da década de 60/70 do século passado foram-se sucedendo reformas atrás de reformas que, regra geral, serviram apenas para atrofiar os sonhos e os ideais deixando cada vez menos "espaço para manobras" e, como que para melhorar esse espaço cada vez mais exíguo as escolas foram-se acomodando, tudo ía sendo feito com calma, com muita calma, que a vida já era complicada que chegasse!... A comunidade escolar foi aceitando... a aventura e a cor foram desaparecendo em favor de um monocromatismo acinzentado. Mais recursos, mais dinheiro, mais condições materiais mas, cada vez menos cor, menos entusiasmo, menos sonho, menos voluntarismo e criatividade... Tudo isto passou a ser oferecido por outros que não a escola. Através de outros meios os alunos conseguem aprender sobretudo a forma mais fácil de tirar boas notas gastando o mínimo de energia possível. Como foi possível que um campo tão fértil como deveria ser a escola crie tanta palha e tão pouco grão?

Ao longo dos anos tem-se vindo a acumular o número de disciplinas e a escola tem-se visto "obrigada" pela sociedade de comunicação, sob os auspícios do espírito comercial e da rapidez de Hermes, a dar respostas aos mais variados problemas sociais: alcoolismo? É necessário prevenir, vamos começar pela escola! Toxicodependência? Intervenhamos a nível escolar. Mães solteiras, cada vez mais e mais novas? Educação sexual nas escolas, já! Poluição, acidentes rodoviários, integração das minorias, incêndios florestais, segurança no trabalho? A tudo isto e muito mais a escola tem vindo a ser solicitada a arranjar soluçõese, cada vez mais, é apontada negativamente porque não tem sido capaz...

Por outro lado a educação é encarada como uma mercadoria e tem vindo a assumir o destino de todos os outros bens de consumo: há caro e há barato! Esta "comercialização" assusta-me porque o comércio e o consumo geram diferenças, quem tem poder de compra tem mais e melhor acesso. à escola pública ficará reservado o papel de servir destinatários menos exigentes e que menos a valorizam. Por outro lado, a multiculturalidade das sociedades que vem deixando pelo caminho tantos que não têm as mesmas oportunidades, tem-se refugiado nas escolas públicas. O oportunismo, os lobbies, e a pobreza intelectual de muitos burocratas e pedagogos associados à cobardia de outros responsáveis tem impedido que se analise e avalie com seriedade e com a máxima urgência, este problema ou, melhor dizendo, este processo: como avaliar a diferenciação de funções da educação e das populações a educar? Considero que estes dois aspectos têm de, necessariamente, ser analisados em separado. Se não o forem e continuarem a ser metidos na mesma panela farão um caldo que esturrará dentro de pouco tempo. Se, feita a análise, concertarmos que temos de por de lado uma prática estereotipada e conservadora de que as diferenças culturais pertubam o funcionamento da escola e considerarmos que elas são, de facto,  uma fonte de enriquecimento e criatividade, deixaremos de tentar a produção de "produtos brancos", mais baratos, iguais para todos e que vendem bem apesar da menor qualidade porque não podemos competir com o mundo elitista das grandes e dispendiosas marcas. E, porque queremos todos ter uma escola diferente da que temos, é necessário começar, de facto, a desejar, a sonhar, a aprender, até porque para "ensinar as coisas mais simples é preciso saber muito..."

Para concluir, é necessário tomar consciência de que se nos deixarmos estar numa complacência de preguiça pendurada no ramo à espera que se passe alguma coisa, será uma marca de cerveja ou de outra coisa qualquer, não tardará muito, a patrocinar as escolas, como se elas fossem um festival de verão...
Ou isso, ou o ramo parte!...

quarta-feira, 23 de março de 2011

O Poeta e o poema que nunca esquecerei...

CHOVE!

Chove...

Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?

Chove...

Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.

José Gomes Ferreira

Um poeta atormentado...

 

A um poeta

Tu, que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno,

Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
Afuguentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares,
Um mundo novo espera só um aceno...

Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! são canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!

Ergue-te pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!                      

                                                                                Antero de Quental

Florbela...

 

Lágrimas ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca

Primavera e um poeta transmontano no centro de Coimbra...



Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

Porque começou a Primavera e é tempo de poesia...



As mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
Manuel Alegre, O Canto e as Armas, 1967

quarta-feira, 16 de março de 2011

Da minha janela...

Desenhado por Ana Marcelino
Da minha janela do hotel de Lisboa, onde estou neste momento, avisto o Tejo brilhando ao entardecer e encanto-me com o voo das gaivotas rasando o Mar da Palha... O céu esse não me encanta tanto...está cinzento, enevoado por um "fog" um tanto "british"... Verde não vejo...já li que "tanto verde enjoa" e eu acrescentarei "a outros sim que não a mim..."
Mas, vem isto a propósito de me terem solicitado, num exercício da formação que estou a frequentar, que exercitasse  o que se chama "elevator speech" ( que consiste, mais ou menos, em fazer passar uma mensagem no menor tempo possível - 30 a 60 segundos). O tema era livre e, perante um público quase todo urbano, achei pertinente "mostrar a minha escola rural" sem recurso a imagens, apenas recorrendo à palavra, no tempo cronometrado (60 segundos).
Demorei 60 segundos certinhos e, basicamente, disse:

Da janela do meu gabinete vejo crianças em vez do Tejo, ouço risos em vez do barulho dos carros e sirenes e, na maior parte do tempo, um imenso recreio vazio em resultado duma coisa que se chama "plano de ocupação"...
O amarelo  torrado das paredes contrasta com o verde dos pinheiros que circundam um "quase hectare" de um jardim bem cuidado, onde saltitam pássaros quando não o fazem as crianças... à tardinha um grupo de perdizes costuma vir procurar as migalhas caídas dos lanches comidos à pressa no intervalo...
Para lá dos pinheiros vislumbra-se o fumo das lareiras das casas antigas da aldeia e o cinzento esverdeado do granito...
A rua da frente, cada vez mais deserta, viu as pedras puídas da velha calçada, cobertas por uma camada de incaracterístico asfalto... Modernidade, evolução, comodidade... falta a criatividade e a humanidade na encosta da serra já dominada pelos mercados e pelo mundo virtual...
Aproveitar o verde dos arredores, o cheiro da terra molhada pelo orvalho, a visita dos pássaros, as rugas e a sabedoria dos mais velhos e trazê-los cá para dentro. Escancarar as nossas portas para que eles possam entrar e estar à vontade e para que nós possamos saír de dentro das quatro paredes onde teimamos em enfiarmo-nos como se ali guardássemos todo o saber que existe... Saír e olhar para o céu que, da janela do meu gabinete, é muito mais azul do que o de Lisboa e dizer às "nossas" crianças que com trabalho, tranquilidade, perseverança e esperança o céu é o verdadceiro limite...

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Turismo rural

Mosquito -Ariadana (Morguefile)
Trata-se de um desporto nacional que antes se chamava "ir à terra". A diferença é que se fores à tua terra, vais de borla, e se fizeres turismo rural vais a uma terra que não é a tua e pagas uma pipa de massa.
Para fazer turismo rural não serve qualquer terra. Tem de ser uma terra "com encanto".
E o que é uma terra "com encanto"?
Obviamente, é uma terra que está num guia de terras "com encanto".
Está-se mesmo a ver. A estas terras chega-se normalmente por uma estrada municipal "com encanto", que é uma estrada com tantos buracos e tantas curvas que quando chegas à terra estás mortinho para sair do carro.
E quando entras no café tentas integrar-te com os vizinhos.
- Bom dia, compadres! O que é que é típico daqui?
E o gajo do café pensa: "Aqui o típico é que venham os artolas da cidade ao fim-de-semana gastar duzentos contos".
A seguir, ficas instalado numa casa rural ou "casa com encanto", que é uma casa decorada com muitos vasinhos e réstias de alhos penduradas do tecto, que não tem televisão, nem rádio, nem microondas. Em contrapartida, tem uns cabrões de uns mosquitos que à noite fazem mais barulho que uma Famel Zundapp.
Depois apercebes-te que os da terra vivem numas casas que não têm encanto nenhum, mas têm jacuzzi, parabólica, Internet e video-porteiro. A tua casa não tem video-porteiro, mas tem uma chave que pesa meio quilo.
Outra vantagem de fazer turismo rural é que podes escolher entre uma casa vazia ou ir viver com os donos da casa. Fantástico!!! Vais de férias e, além da tua, ainda tens de aguentar uma família postiça.
Que à noite queres ver o filme, eles os documentários e tu perguntas-te:
"Quem é que manda mais? Eu, que paguei 600 euros ou este senhor que vive aqui?" Ganha ele, que tem um cacete.
Ainda por cima, dizem-te que tens "a possibilidade de te integrares nos trabalhos do campo". O que quer dizer que te acordam às cinco da manhã para ordenhar uma vaca. Não te lixa?
É como ires à bomba da gasolina e teres de pôr tu a gasolina, ou como ires ao McDonalds e teres de arrumar o tabuleiro. Ou seja, o normal.
Então, levantas-te às cinco para ordenhar as vacas. E digo eu:
Porque raio é que é preciso ordenhar as vacas tão cedo? O leite está lá! Não se podem ordenhar depois do pequeno-almoço? Eu acho que isto é só para chatear, porque a vaca deve ficar muita contente por a acordarem às cinco da  manhã para um estranho lhe vir mexer nas mamas.
A vaca olha para ti como se dissesse:
"Ouve lá, pá! Se queres leite vai ao frigorífico e abre um pacote!"
É que é mesmo só para chatear!!!
Mas o "encanto" definitivo são "as actividades ao ar livre". Como quando te põem a fazer caminhada, que é aquilo a que normalmente se chama andar, e consiste, exactamente, em por um pé em frente ao outro até não poderes mais, enquanto os da terra vão num jipe com ar condicionado. Mas tu, feliz da  vida, vais pelo campo atordoado, tornas-te bucólico e tudo te parece impressionante:
Vês uma vaca e dizes:
"Ummmmm, que cheirinho a campo". A campo não, a bosta!!! Mas, isso sim, é a bosta "com encanto". E tudo, seja o que for, te sabe maravilhosamente: na mesa pespegam-te dois ovos estrelados com chouriço e tu  na cidade não comes estes ovos, nem estes chouriços. E perguntas ao empregado:
- Este chouriço é da matança?
- Quase, porque o gajo do camião da Izidoro ia morrendo ali na curva.
De repente, ouves umas badaladas e dizes:
- Ah! Que paz! Não há nada como o som de um sino!...
E o gajo do café diz-te:
- É gravado. Não vê o altifalante no campanário?
Nesse momento, perguntas-te se os ruídos das galinhas e dos grilos não  estarão num CD: "RuralMix2009", "Os 101 Maiores Êxitos Campestres". A única coisa de que tens a certeza é que os cabrões dos mosquitos são verdadeiros.
Pareces um Ferrero Rocher com varicela!!!
Eu acho que, de segunda a sexta, as pessoas destas terras vivem como toda a gente, mas ao fim-de-semana espalham pela estrada uns tipos mascarados de pastores e quando vêem que se aproxima um carro, avisam os da terra pelo telemóvel: "Hey, vêm aí os do turismo rural!" e mudam o cartaz de "Videoclube" pelo de "Tasca", soltam uns cães pelas ruas e sentam à entrada na terra dois avôzinhos a fazer sapatos, que depois tu compras uns e  saem-te mais caros que uns Nike.
Enfim, acho que uma montagem tão grande como esta não pode ser obra de pessoas isoladas. Tenho a certeza de estão implicadas as autoridades.
Imagino o Presidente da Câmara:
- "Queridos conterrâneos: este Verão, para aumentar o turismo, vamos importar mais mosquitos do Amazonas, que no ano passado tiveram imenso êxito. E quero ver toda a gente com boina, nada de bonés de pala da Marlboro. E façam o favor de pintar o espaço entre as sobrancelhas, que assim não parecem da província! E as avós: nada de topless na ribeira, que espantam os mosquitos! E só mais uma coisa: este ano não é preciso ninguém fazer de maluquinho da terra, que com os que vêm de fora já chega!

Não sei quem é o/a autor/a mas não podia deixar de publicar este texto. Aproveito para agradecer a quem o elaborou os bons momentos de disposição que me provocou...Gostava muito de saber quem foi para que se faça a merecida justiça...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A propósito de namoro, namorados e paixão... (14 de Fevereiro)

Forlife... by Taliesin (Morguefile)
The Dream

I dreamed that you had ceased to love me—
not that you had come from other beds
back to mine, or gone from mine to others,
just that something in your heart had stopped.

I willed myself awake to find you still
beside me. It was just a dream, I thought,
yet when I turned to kiss you, in your eyes
I saw that you had ceased to love me.

I willed myself awake a second time
to find myself alone, as I have been
these many months, but did not know if it
was terror or relief I felt, and whether

dreams unfold the past or make the future
plain. I dreamed that you had ceased to love me,
and know when I see nothing in your eyes
I can't dream myself awake a third time.
David Solway


O sonho (tradução livre do original de David Solvay)

Sonhei que deixaste de me amar!
Não que tivesses vindo de outras camas
E te deitasses na minha, ou saído da minha para outras...
Apenas que, qualquer coisa no teu coração, parara.

Desejei acordar-me a mim própria para te ver quieto a meu lado.
Foi apenas um sonho, pensei e, no entanto, 
Quando me virei para te beijar,
Vi, no teu olhar, que tinhas deixado de me amar.

Desejei acordar-me uma segunda vez
E estar sozinha, como tenho estado
Nestes imensos meses mas, não soube se o que senti
Foi terror ou alívio e, contudo...

Os sonhos esvaziam o passado ou enchem o futuro.
Sonhei que tinhas deixado de me amar,
E soube que, quando não vi nada no teu olhar,
Não poderia voltar a sonhar em acordar pela terceira vez.


sábado, 22 de janeiro de 2011

Finalmente... Quem foram os Santos Mártires de Marrocos?

Ao que tudo indica constituiam um grupo de 6 frades enviados pelo próprio S. Francisco de Assis, em 1219, numa missão para espalhar o Evangelho para os lados de Marrocos. Pelos vistos eram todos italianos e chamavam-se Vital, Berardo, Otão, Pedro, Acúrsio e Adjuto.
Seguindo por Espanha, Frei Vital ficou muito doente o que não impediu que os restantes cinco continuassem para Portugal onde foram recebidos, em Coimbra, por D. Urraca, esposa de D. Afonso II de Espanha.
Em Alenquer foram apresentados a D. Sancha, filha de D. Sancho I. Esta D. Sancha viria a fundar o primeiro convento franciscano. Pelos vistos, arranjou umas roupas comuns que constituiram o disfarce com que os frades entraram em território mourisco, seguindo para Lisboa em direcção a Sevilha. Nesta cidade fizeram a sua primeira pregação dentro de uma Mesquita em dia de festejos a Maomé, tendo-se, para o efeito, vestido, novamente, de frades.
Obviamente, foram corridos à paulada e considerados bêbados. Nada disto os desanimou e decidiram pregar a palavra de Jesus junto do próprio Califa. Conseguiram ser recebidos mas, mal abriram a boca, o Califa não achando graça à conversa, mandou matá-los. O filho do Califa, no entanto, intercedeu por eles, convidando-os a converterem-se ao islamismo o que eles não aceitaram.
Por essa altura, o infante D. Pedro, irmão do rei de Portugal, cristão convicto mas aliado do Califa, partiu para Marrocos para combater outros reis Mouros, tendo os frades aproveitado a boleia. Em Marrocos D. Pedro deu-lhes aposento mas, em vez de ficarem  sossegados, continuaram a pregar pelas ruas. Não agradando aos mouros esta situação, foi decretada a sua expulsão para um país cristão. D. Pedro recebe-os novamente e envia-os para Ceuta para os pôr a salvo de represálias. Mas os frades, teimosos, escaparam à vigilância, regressaram novamente  à pregação e, claro, foram presos. Ao que parece ficaram numa escura masmorra durante vinte dias sem comer e sem beber. No fim desse tempo, levados à presença do rei mouro continuavam bem nutidos e com boa disposição o que foi causa de muito espanto e que lhes proporcionou a sua libertação. Os cristãos, com medo de começarem a sofrer represálias devido a tão grande teimosia, levam-nos para Ceuta novamente tendo, de imediato, os frades voltado novamente para trás. D. Pedro, para os proteger, leva-os, então, numa missão guerreira juntamente com os seus soldados e alguns muçulmanos. Vencida a rebelião que foram combater, regressaram mas, mais uma vez, os frades mostraram a sua santidade ao salvá-los a todos de morrerem de sede, fazendo brotar água das areias do deserto. Essa fonte, após ter matado a sede aos homens e aos cavalos e depois de todos terem enchido os odres para o resto da viagem, secou imediatamente.
O miramolim mouro ao saber deste feito e também porque os frades haviam tido uma discussão teológica com um sábio muçulmano que ficara verdadeiramente impressionado com a sabedoria que eles demonstravam volta a recebê-los. Mas, de novo, a conversa irrita o mouro que encarrega o seu filho Abusaid de os prender e decapitar. No entanto, o principe mouro, fôra um dos soldados salvos no deserto pelo milagre dos frades e foi retardando a execução da ordem o mais tempo possível. Mas a firmeza dos frades era maior que tudo e acabaram mesmo por ser presos pois o seu algoz ficou convencido que, o que eles queriam mesmo, era o martírio final. Não podia, também, tolerar  que em terras de Maomé, o seu próprio nome fosse espezinhado e a sua religião alvo de provocações.
Morreram, pois, como seria sua vontade, de uma forma extremamente violenta: após duro interrogatório pelo principe durante o qual, repetidamente, os frades defendiam a fé cristã e injuriavam a lei de mafoma, cuspindo Berardo para o chão o que irritou o mouro que lhe pregou uma valente bofetada tendo o frade apresentado imediatamente a outra face. Foram, seguidamente, açoitados, arrastados pelo chão, depois de atados de pés e mãos, até  os seus corpos ficarem descarnados tendo, os algozes, seguidamente, deitado azeite a ferver nas feridas. Novamente foram arrastados, desta vez sobre vidros e cacos. Alguns espectadores rogaram-lhes que se convertessem a Maomé para que assim acabasse tamanho suplício. Os frades mantiveram-se irredutíveis e após tamanhas torturas, resolveram os mouros, em vão, tentá-los com a oferta de dinheiro e mulheres. O miramolim achou então que nada faria calar aqueles homens a não ser a força da espada. Continuando sempre a defender a palavra de Deus, os frades provocaram tal ira no mouro que com a sua própria cimitarra rachou ao meio o crânio dos pregadores, cortando-lhes, de seguida, a cabeça. Corria o ano de 1220 e D. Pedro, recorrendo ao suborno, conseguiu resgatar as relíquias dos frades e trazê-las para Portugal.
Foram canonizados pelo Papa Sisto IV em 1491.

Falta-me saber se o dia 16 de Janeiro foi o dia da sua morte...

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Quem diria?

Clarita (morguefile)
Quem diria que tinhas uma floresta encantada
na qual o tempo e a idade nunca passarão
e os sonhos nunca serão esquecidos?
Quem diria que eu nunca encontraria esse lugar encantado
e, ao procurá-lo, me perdia nas areias de um deserto
seco e inóspito onde o amor nunca existiu
ou foi há muito tempo esquecido?
Quem diria que construiste um castelo,
Enquanto os muros à minha volta se desmoronavam,
Silenciosamente, sem eu dar conta?
Quem diria que o ar que respiravas não era o mesmo que o meu
E que os teus sonhos não se cruzavam com os meus?
Quem diria que viria o dia em que ao olhar o azul do céu,
apenas vejo um enorme temporal
que me faz sentir triste e só?
Quem diria...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Tourada

Realmente... há coisas, neste caso uma canção, que não envelhecem!