Sonho

Sonhei que me afundava nos braços da morte...

Não sei quanto tempo durou a quietude...

Mas sei que este foi o único sonho bom que tive até hoje,

Desde o dia em que soube que os sonhos tinham acabado...

Alma popular



Um senhor que tinha tinha
Pediu a outro que não tinha tinha
Que lhe tirasse a tinha;
Dava-lhe tudo quanto tinha.


Ó compadre, como passou a tarde de ontem à tarde?
- Deixe-me lá, meu compadre,
Que a tarde de ontem à tarde,
Foi para mim tamanha tarde
Que ele venha cá outra tarde
Como a tarde de ontem à tarde.

Tenho uma capa bilrada, chilrada, galripatalhada:
Mandei-a ao senhor bilrador, chilrador, galripatalhador,
Que ma bilrasse, chilrasse, galripatalhasse,
Que eu lhe pagaria bilraduras, chilraduras, galripatalhaduras.

Mário Mora foi a Mora
Com a intenção de vir embora,
Mas, como em Mora demora,
Diz um amigo de Mora:
- Está cá o Mora?
- Está, está cá o Mora.
- Então agora o Mora mora em Mora?
- Mora, mora.

- O que é que há cá?
- É o eco que há cá?
- Há cá eco?
- Há cá eco, há.

Esta burra torta trota,
Trota, trota a burra torta,
Trinca a murta, a murta brota,
Brota a murta ao pé da porta.

Ó compadre, merca pouca cabra parda,
Que quem pouca cabra parda merca,
Pouca cabra parda paga.


Lenda do Lobisomem

Blue_on_Wolf by lightningfla

Reza a lenda que, em noites de Lua Cheia,  um Lobisomem (homem-lobo) percorre as ruas graníticas da aldeia, caçando homem ou bicho que apanhar desprevenido. As portadas das janelas fecham-se e as crianças escondem-se debaixo das mantas. Mas, que monstro é este que assim apavora as noites enluaradas?
Acontece que, nas famílias da região, nomeadamente nas mais numerosas  era costume nascerem seis, sete, oito e mais filhos... Quando chegava a hora de nascer o sétimo filho, se fosse menina havia que pôr-lhe o nome de Custódia ou Benta, se fosse menino haveria de ser Bento ou Custódio!
No entanto, nem todos se lembravam ou não acreditavam e lá lhes punham outros nomes. Esses, ficavam cativos de uma enorme maldição: em noites de Lua Cheia essas crianças transformavam-se: os dentes e as orelhas aumentavam de tamanho e mudavam de forma; as unhas tornavam-se enormes garras e o corpo cobria-se de uma camada de pêlo hisurto. Os olhos chamejantes vasculhavam no escuro e, se encontrassem por onde saíam de casa para caçar. Depois cansados escondiam-se numa gruta junto do rio Alfusqueiro, comendo sogregamente o produto da caçada... Testemunhos não faltavam: ossos, paredes enfarruscadas pelo fumo onde o monstro acendia uma fogueira nas noites mais frias...
O seu destino era matar os outros, apenas um, o mais forte dominava e o seu destino ainda hoje se mantém: correr sete freguesias numa noite à procura das presas descuidadas...