Sonho

Sonhei que me afundava nos braços da morte...

Não sei quanto tempo durou a quietude...

Mas sei que este foi o único sonho bom que tive até hoje,

Desde o dia em que soube que os sonhos tinham acabado...

sábado, 18 de dezembro de 2010

Advice to a son - Poema de Ernest Hemingway

Never trust a white man,
Never kill a Jew,                                                     
Never sign a contract,
Never rent a pew.
Don't enlist in armies;
Nor marry many wives;
Never write for magazines;
Never scratch your hives.
Always put paper on the seat,
Don't believe in wars,
Keep yourself both clean and neat,
Never marry whores.
Never pay a blackmailer,
Never go to law,
Never trust a publisher,
Or you'll sleep on straw.
All your friends will leave you
All your friends will die
So lead a clean and wholesome life
And join them in the sky.


Traduzido do original de Ernest Hemingway:


Nunca confies num homem branco,
Nunca mates um Judeu,
Nunca assines um contrato,
Nunca alugues um lugar cativo.
Nunca te alistes no exército;
Nem cases com muitas mulheres;
Nunca escrevas para revistas;
Nem atices um enxame.
Põe sempre papel no assento,
Não acredites em guerras,
Mantém-te limpo e arranjado,
E nunca cases com putas.
Nunca pagues a um chantagista,
Nunca vás para advogado,
Nunca confies num editor,
Ou acabarás a dormir na palha.
Todos os teus amigos te deixarão
Todos os teus amigos morrerão
Portanto vive uma vida limpa e plena
E junta-te a eles no céu.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Nascimento


16 de Janeiro de 1959… A madrugada, segundo consta, estava gélida, toda branca! Lá fora a neve e o nevoeiro tinham esbatido completamente a paisagem. Um gemido, seguido de um choro lancinante, fez espantar os corvos que se tinham aglomerado nas árvores do quintal, empoleirados nos ramos que se erguiam em direcção ao céu tão despidos como despida seria a vida que, naquele momento, irrompeu…

Sonhos? Os bebés sonham? Porque outra razão, que não fosse o medo de sonhar, a minha avó dizia que não conhecia e que nem devia haver outra criança que custasse tanto a adormecer?
Sonhar para quê? Nascer para quê? Vir puxada a ferros para o mundo! Causar tanta dor, tanto sofrimento para quê? Tanta hesitação em nascer…seria medo?
Foi um erro o que aconteceu naquela hora! Se o médico não tivesse vindo carregando a velha maleta atafulhada de ferros e outras ferramentas do seu ofício, se a minha mãe não tivesse feito tanta força e aguentado tanto tempo aquela dor que lhe rasgava as entranhas…
Passados dias, no início de Fevereiro, em que o sol ganhava força para que, em breve, despontasse a Primavera, o meu avô montou na égua castanha com o destino de proceder ao registo da criança… Durante a viagem, 4 léguas, mais ou menos, parou, como mandam os hábitos da boa educação, para cumprimentar os amigos e conhecidos, para resolver uma questiúncula entre vizinhos (era o Regedor da freguesia), para dessedentar o animal e tantas vezes se dessentou a ele próprio que, quando chegou a altura de praticar o acto do registo, atirou com o seu vozeirão uma data errada: 14 de Janeiro, dois antes do nascimento. Mas, que interessam dois dias? Não são nada de facto mas, desde essa altura que os papéis andam trocados…
16 de Janeiro foi o dia do meu nascimento,  entre o Santo Amaro e o Santo Antão, em dia de nenhum Santo ou, melhor dizendo, de vários Santos: os Santos Mártires de Marrocos! Quem foram eles? Que martírio tiveram? Quem os martirizou e porquê? Vou tentar descobrir… é um objectivo como outro qualquer…
Seja como for, nasci…
Ultimamente, tenho lido e ouvido bastantes dissertações sobre o desígnio que nos faz nascer e que nos atribui uma missão a cumprir durante a vida…Outros, porém, defendem que é nesta vida que expiamos os pecados da outra…

domingo, 5 de dezembro de 2010

A propósito do texto de Aquilino...

Por entre as muitas recordações da minha infância, umas felizes outras nem tanto, estão ainda bem presentes as sensações vividas em contacto com os rituais da Igreja. O tocar do sino, bem cedo, a chamar para a missa, o frio e as conversas pelo caminho do Calvário, o cheiro a naftalina dos fatos domingueiros, o murmúrio das velhas que rezavam ininterruptamente durante a celebração, os cânticos mais ou menos afinados, os lugares marcados, homens à frente, mulheres atrás, os mais abastados nos seus postos e cadeiras privilegiados e, sobretudo, os enormes sermões dos dias de festa e dos domingos terceiros de tal forma que, qualquer coisa mais morosa e sensaborona, era apelidada de “pior que sermão e missa cantada”. Mas havia o lado risonho, os ramos do Domingo do mesmo nome, a visita pascal, as procissões, a “doutrina” e o pão com marmelada que o senhor vigário dava no fim, o Natal, o Presépio, os vestidos brancos das comunhões, as flores dos altares e dos andores, o cheiro dos sírios…e tantas, tantas outras coisas…A paz e a calma de uma oração dita na penumbra e no silêncio da Igreja vazia, subsiste ainda, passados que são já tantos anos…Prevalece, também, a ideia do medo, terror até, dos castigos, da ida para o Inferno, do que o senhor vigário poderia achar de uma saia mais curta nas raparigas ou do cabelo mais comprido nos rapazes, dos pensamentos maus (?) confessados a medo, do sentir o corpo a desabrochar na Primavera, de uma troca de olhares mais atrevida ao fim da missa…É que ficavam ao nosso alcance umas asinhas de anjos negros a caminho das labaredas do Inferno!
Pensava eu que tudo isto tinha passado com os anos, eram ilusões de uma infância vivida na pequenez de uma aldeia serrana sem grandes horizontes, onde dominava uma Igreja controladora da vida e dos actos dos homens, qual Big Brother pairando por entre as nuvens, espiando…As leis, as regras, a alegria e a tristeza, a dor, o bem e o mal, tudo era regulado pela Igreja. Parecia, até, que as flores desabrochavam conforme os cânticos da missa eram mais tristes ou mais alegres! E, se calhar, era mesmo assim…
Cresci cultivando a ideia de que Jesus é sereno e bom e que os homens são agitados e inconstantes e precisam dos ensinamentos e do amparo da Igreja. Aprendi que o bem e o mal coexistem e que nem sempre têm valores absolutos. O Homem é produto disso mesmo, de um emaranhado!
Entre os temores de uma Igreja tirana e o conforto de Jesus fui, assim, controlando o peso das imagens negativas e positivas trazidas pelo estudo da História do mundo e pelos actos dos homens quer sejam eles laicos ou religiosos. À ideia de uma Igreja economicamente poderosa, retrógrada, extremamente austera e incapaz de se abrir a horizontes de mudança, fui contrapondo, benevolamente, o empenho dos seus ministros, o alheamento dos bens terrenos, a defesa de grandes causas, a compreensão e o estímulo para uma vida sã de corpo e alma. Como terá dito alguém, “amar a Deus não significa que não se ame a Vida”.
Conforme os representantes da Igreja que vou ouvindo e lendo também estas convicções têm sofrido de altos e baixos como quando oiço dizer que os jovens se estão a afastar da Igreja porque não vão à missa em detrimento de coisas tão mundanas como praticar desporto. O entusiasmo por outras actividades colide, de facto, com algumas actividades da Igreja porque acontecem, ambas, sobretudo ao fim-de-semana. Mas isso não pode significar que os jovens são pecadores inveterados porque se dedicam a uma prática diabólica… porque é ridículo proibir, pôr medo, controlar através da ideia de que um Mefistófeles iracundo e cornudo, tresandando a enxofre, esteja à espera de quem tenha faltas à missa e à “doutrina”. E, no entanto, ainda há quem pense assim…Quando a Igreja e toda a sociedade, em uníssono, dizem que é necessário desviar os jovens de maus caminhos, da droga, de uma vida vazia, da falta de expectativas, da solidão, não podem essas pessoas compreender que o objectivo é o mesmo e que uma coisa não anula a outra? Apenas a Igreja sabe trabalhar para o bem dos jovens? Tudo o resto é falso, demoníaco até?
Será que, para essas pessoas, gostar da Natureza, dos bosques, da frescura das fontes é sinónimo de paganismo?
Então, se assim for, seremos todos nós, uns pequenos seres alados, caricaturas de anjos a esvoaçar a caminho do céu e do inferno, usando umas asas brancas ou negras consoante corramos uma corrida de obstáculos ou nos esfalfemos a caminho da Igreja? Ficar com umas asas definitivamente brancas que nos levarão ao Céu, pode ser tão simples como viver apenas para os rituais da Igreja e esquecer o resto da vida?
Sobre esta postura de alguns a mais não me atrevo a dizer… Escrever pelo simples prazer de escrever poderá significar que me deixo arrastar, batendo com medo umas enormes asas negras a caminho do Inferno…

How To Be Alone

sábado, 4 de dezembro de 2010

Um bocadinho de Aquilino...

" Poderia fazer-se com êxito um apartamento hermético do religioso e do laico ainda nas suas manifestações mais distantes? Sem dúvida que não. Nem nos próprios conventos tal prodígio era possível. Paredes a meias lá se encontravam o secular e o místico- Mas nem por S. Francisco rir às bandeiras despregadas com seus padres, nem Sto. António bailar com as moças, segundo o Vita Nuova, deixam de ser grandes luminares da igreja e gigantes de cristandade. No mundo dos fenómenos há lugar para a dualidade, e mal de nós que ela fosse tão antinómica que tivesse de manifestar-se e viver em compartimentos estanques. Se tal doutrina prevalecesse, o mundo tornar-se-ia em um emparedamento abominável, pior que um aquário de focas e pinguins...
...A criatura que foi expulsa do Paraíso tornou-se esta flagrante dualidade com tudo em si, guerra e paz, luz e sombra, brancura e negror, bem e mal, Deus e Diabo."
                                                                                            - Aquilino Ribeiro-