Sonho

Sonhei que me afundava nos braços da morte...

Não sei quanto tempo durou a quietude...

Mas sei que este foi o único sonho bom que tive até hoje,

Desde o dia em que soube que os sonhos tinham acabado...

quarta-feira, 16 de março de 2011

Da minha janela...

Desenhado por Ana Marcelino
Da minha janela do hotel de Lisboa, onde estou neste momento, avisto o Tejo brilhando ao entardecer e encanto-me com o voo das gaivotas rasando o Mar da Palha... O céu esse não me encanta tanto...está cinzento, enevoado por um "fog" um tanto "british"... Verde não vejo...já li que "tanto verde enjoa" e eu acrescentarei "a outros sim que não a mim..."
Mas, vem isto a propósito de me terem solicitado, num exercício da formação que estou a frequentar, que exercitasse  o que se chama "elevator speech" ( que consiste, mais ou menos, em fazer passar uma mensagem no menor tempo possível - 30 a 60 segundos). O tema era livre e, perante um público quase todo urbano, achei pertinente "mostrar a minha escola rural" sem recurso a imagens, apenas recorrendo à palavra, no tempo cronometrado (60 segundos).
Demorei 60 segundos certinhos e, basicamente, disse:

Da janela do meu gabinete vejo crianças em vez do Tejo, ouço risos em vez do barulho dos carros e sirenes e, na maior parte do tempo, um imenso recreio vazio em resultado duma coisa que se chama "plano de ocupação"...
O amarelo  torrado das paredes contrasta com o verde dos pinheiros que circundam um "quase hectare" de um jardim bem cuidado, onde saltitam pássaros quando não o fazem as crianças... à tardinha um grupo de perdizes costuma vir procurar as migalhas caídas dos lanches comidos à pressa no intervalo...
Para lá dos pinheiros vislumbra-se o fumo das lareiras das casas antigas da aldeia e o cinzento esverdeado do granito...
A rua da frente, cada vez mais deserta, viu as pedras puídas da velha calçada, cobertas por uma camada de incaracterístico asfalto... Modernidade, evolução, comodidade... falta a criatividade e a humanidade na encosta da serra já dominada pelos mercados e pelo mundo virtual...
Aproveitar o verde dos arredores, o cheiro da terra molhada pelo orvalho, a visita dos pássaros, as rugas e a sabedoria dos mais velhos e trazê-los cá para dentro. Escancarar as nossas portas para que eles possam entrar e estar à vontade e para que nós possamos saír de dentro das quatro paredes onde teimamos em enfiarmo-nos como se ali guardássemos todo o saber que existe... Saír e olhar para o céu que, da janela do meu gabinete, é muito mais azul do que o de Lisboa e dizer às "nossas" crianças que com trabalho, tranquilidade, perseverança e esperança o céu é o verdadceiro limite...

1 comentário:

  1. Se demoraste 60 segundos a transmitir a tua mensagem, eu demorei mais a lê-la. Mas valeu a pena!
    "...o céu é o verdadceiro limite...". O céu é o único limite!

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