Sonho

Sonhei que me afundava nos braços da morte...

Não sei quanto tempo durou a quietude...

Mas sei que este foi o único sonho bom que tive até hoje,

Desde o dia em que soube que os sonhos tinham acabado...

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Nascimento


16 de Janeiro de 1959… A madrugada, segundo consta, estava gélida, toda branca! Lá fora a neve e o nevoeiro tinham esbatido completamente a paisagem. Um gemido, seguido de um choro lancinante, fez espantar os corvos que se tinham aglomerado nas árvores do quintal, empoleirados nos ramos que se erguiam em direcção ao céu tão despidos como despida seria a vida que, naquele momento, irrompeu…

Sonhos? Os bebés sonham? Porque outra razão, que não fosse o medo de sonhar, a minha avó dizia que não conhecia e que nem devia haver outra criança que custasse tanto a adormecer?
Sonhar para quê? Nascer para quê? Vir puxada a ferros para o mundo! Causar tanta dor, tanto sofrimento para quê? Tanta hesitação em nascer…seria medo?
Foi um erro o que aconteceu naquela hora! Se o médico não tivesse vindo carregando a velha maleta atafulhada de ferros e outras ferramentas do seu ofício, se a minha mãe não tivesse feito tanta força e aguentado tanto tempo aquela dor que lhe rasgava as entranhas…
Passados dias, no início de Fevereiro, em que o sol ganhava força para que, em breve, despontasse a Primavera, o meu avô montou na égua castanha com o destino de proceder ao registo da criança… Durante a viagem, 4 léguas, mais ou menos, parou, como mandam os hábitos da boa educação, para cumprimentar os amigos e conhecidos, para resolver uma questiúncula entre vizinhos (era o Regedor da freguesia), para dessedentar o animal e tantas vezes se dessentou a ele próprio que, quando chegou a altura de praticar o acto do registo, atirou com o seu vozeirão uma data errada: 14 de Janeiro, dois antes do nascimento. Mas, que interessam dois dias? Não são nada de facto mas, desde essa altura que os papéis andam trocados…
16 de Janeiro foi o dia do meu nascimento,  entre o Santo Amaro e o Santo Antão, em dia de nenhum Santo ou, melhor dizendo, de vários Santos: os Santos Mártires de Marrocos! Quem foram eles? Que martírio tiveram? Quem os martirizou e porquê? Vou tentar descobrir… é um objectivo como outro qualquer…
Seja como for, nasci…
Ultimamente, tenho lido e ouvido bastantes dissertações sobre o desígnio que nos faz nascer e que nos atribui uma missão a cumprir durante a vida…Outros, porém, defendem que é nesta vida que expiamos os pecados da outra…

1 comentário:

  1. "Um gemido, seguido de um choro lancinante, fez espantar os corvos que se tinham aglomerado nas árvores do quintal, empoleirados nos ramos..."
    Assim, se quebrou a quietude.

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